Presciência e Eleição
Após a queda da humanidade, a redenção passou a ser condicionada ao Descendente da mulher ( Gn 3:15 ), e o dia chamado ‘hoje’ é o dia oportuno de salvação. Se a salvação e a perdição fossem incondicionais, o ‘hoje’ não seria o momento de salvação, ou o ‘dia’, ou o ‘ano’ sobre modo oportuno, antes a oportunidade e o dia de salvação estaria na eternidade, antes que houvesse mundo, pois lá seria estabelecido os perdidos e os salvos ( Is 61:2 ; Hb 3:7 ; ).
"Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça e paz vos sejam multiplicadas" ( 1Pe 1:2 )
No afã de justificar a doutrina bíblica da eleição e predestinação, alguns estudiosos redefiniram o significado do termo ‘presciência’ para ‘pré-ordenação’. Isto seria mesmo necessário? Para justificar um posicionamento doutrinário se faz necessário redefinir termos básicos como graça, perdição, presciência, etc.?A seguinte passagem bíblica: “... pelo determinado conselho e presciência de Deus..." ( At 2:33 ), é um dos exemplos de redefinição de termos, sendo que o termo presciência, neste caso, passou a se utilizado como ‘pré-ordenar’, para demonstrar que algumas pessoas em particular foram escolhidas para serem salvas, e outras não.
O que é presciência? Presciência é o mesmo que ‘pré-ordenar’? O ‘determinado conselho’ é o mesmo que ‘presciência’?
Conselho
“A este que vos foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, prendestes, crucificastes e matastes pelas mãos de injustos” ( At 2:23 )
O apóstolo Pedro demonstrou aos seus ouvintes que Jesus foi entregue aos homens pelo conselho de Deus. Que conselho é este? O conselho é o entendimento e sabedoria de Deus em ação, o que determina a perfeita maneira de Deus realizar seus intentos (vontade + conselho = perfeita vontade).
A perfeição da vontade de Deus surge da sua sabedoria, conhecimento e inteligência ( Pv 3:19 -20), fruto do determinado conselho.Cristo não foi conquistado, antes se entregou segundo o conselho da vontade de Deus "... daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade" ( Ef 1:11 ; Jo 10:17 ).
O conselho de Deus é o que determina e aprova (beneplácito) o que Ele realizará. O conselho de Deus é imutável assim como a sua vontade, ou seja, a perfeita vontade deriva do conselho "Que anuncio o fim desde o princípio, e desde a antiguidade as coisas que ainda não sucederam; que digo: O meu conselho será firme, e farei toda a minha vontade" ( Is 46:10 ; Hb 6:17 ).
Através da sua vontade (Palavra de seu poder) Deus criou o mundo ( Ap 4:11 ) e, antes de criar o homem Deus expressou a sua vontade: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança” ( Gn 1:26 ). Deus assim o fez porque era da sua vontade que Cristo tivesse a preeminência em tudo ( Cl 1:18 ).
E assim Deus desvendou o mistério da sua vontade, que é convergir em Cristo todas às coisas, pois este é o beneplácito proposto em si mesmo ( Ef 1:9 ).
Para levar a efeito a sua vontade, de que Cristo tivesse a preeminência em tudo, Deus criou o homem. Sabendo que a geração segundo a semente de Adão transgrediria (presciência) e todos se tornariam imundos, ficando aquém do propósito de Deus, e sendo a vontade de Deus imutável "O conselho do SENHOR permanece para sempre; os intentos do seu coração de geração em geração" ( Sl 33:11 ), Ele anunciou as boas novas do evangelho aos homens perdidos e, trouxe a existência uma nova geração de seres espirituais segundo o seu conselho e propósito de fazer Cristo preeminente em tudo.
Tiago escreveu dizendo que Deus gerou de novo os cristãos pela palavra da verdade, para que fossem como o melhor (primícias) das suas criaturas: homens espirituais semelhantes a Ele "Segundo a sua vontade, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como primícias das suas criaturas" ( Tg 1:18 ); “O primeiro homem, da terra, é terreno; o segundo homem, o Senhor, é do céu. Qual o terreno, tais são também os terrestres; e, qual o celestial, tais também os celestiais. E, assim como trouxemos a imagem do terreno, assim traremos também a imagem do celestial” ( 1Co 15:47 -49).
O apóstolo Paulo relatou que Deus revelou o mistério acerca da sua vontade, de tornar a congregar em Cristo todas as coisas, ou seja, tornar Cristo preeminente em tudo. Através das suas novas criaturas, que são primícias, semelhantes a Ele, Jesus é o primogênito de toda a criação: preeminente entre muitos irmãos! ( Cl 1:15 )
Para resgatar a humanidade que jazia em trevas sob a maldição do pecado de Adão, Cristo ofertou o seu corpo segundo a vontade de Deus ( Hb 10:10 ), e para fazer a vontade de Deus ( Hb 10:9 ). Para torná-lo preeminente, o primogênito de toda a criação, Deus ressuscitou a Cristo dentre os mortos através do seu poder, momento em que Ele se tornou o primogênito dentre os mortos.
Antes de ser morto e ser sepultado, Cristo era semelhante em tudo aos homens, no entanto, após ressurgir dentre os mortos, Cristo alcançou a posição de semelhança ao Altíssimo ( Sl 17:15 ), sendo a expressa imagem de Deus ( Hb 1:3 ), e todos que são sepultados a semelhança da sua morte ressurgem uma nova criatura e, todos trazem a imagem do homem celestial, sendo semelhantes ao Altíssimo "E vos vestistes do novo, que se renova para o conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou" ( Cl 3:10 ).
O propósito eterno de Deus é único e foi estabelecido na pessoa de Cristo: a preeminência de Cristo em todas as coisas! "Segundo o eterno propósito que fez em Cristo Jesus nosso Senhor" ( Ef 3:11 ).
Diferente dos homens, Deus é perfeito, pois ele não depende de raciocínio, de intuição, de análise para chegar a uma conclusão. Deus simplesmente age segundo a sua boa vontade. Ele é todo poder, sabedoria, conhecimento, onipresente, onisciente, etc., o que não demanda da parte dele raciocinar, inquirir, concluir, etc. Ele faz todas as coisas segundo o conselho (beneplácito) da sua vontade.
É do ‘conselho’ que emana a vontade perfeita de Deus e, o conselho de Deus, bem como sua perfeita vontade é expressa na sua palavra: "Porquanto se rebelaram contra as palavras de Deus, e desprezaram o conselho do Altíssimo" ( Sl 107:11 ).
Quando se lê: “A este que vos foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, prendestes, crucificastes e matastes pelas mãos de injustos” ( At 2:23 ), o 'determinado conselho' demonstra a previsibilidade exarada nas escrituras da crucificação e morte de Cristo por mãos de malfeitores, ou seja, a palavra expressa.
Os atos de Deus decorrem única e exclusivamente da sua vontade, sendo que o seu conselho é expresso na perfeição da execução do seu propósito. Tudo o que Deus faz é segundo o seu conselho; é segundo o que lhe apraz; é segundo a sua palavra, que é Cristo, o Verbo encarnado ( At 4:28 ; At 20:27 ; Hb 6:17 ).
Assim temos:
- A vontade de Deus;
- O conselho de Deus, e;
- A palavra expressa.
Obs.: beneplácito s. m.- 1. Consentimento; 2. Aprovação; 3. Aprazimento, e 4. Licença.
O Propósito Eterno
O propósito eterno de Deus é algo que Ele, na eternidade, propôs realizar em si mesmo “Segundo o eterno propósito que fez em Cristo Jesus nosso Senhor” ( Ef 3:11 ). Tal propósito visa a sua própria glória e graça ( Ef 1:6 e 12).
Diferente da salvação, que se refere ao tempo chamado ‘hoje’ e, que, portanto, há um tempo predeterminado para se encerrar, o propósito de Deus é eterno, visto que foi proposto em si mesmo, propósito que perdurará pela eternidade.
Na eternidade Deus propôs convergir em Cristo todas as coisas “De tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra” ( Ef 1:10 ), fazendo o Verbo encarnado herdar um nome que é acima de todos os nomes e que perdurará para sempre "Acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo o nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro" ( Ef 1:21 ; Fl 2:9 ; Sl 138:2 ; Hb 1:4 ).
Deus é conhecido pelo seu poder e grandeza, sendo nomeado o grande, poderoso e terrível Senhor dos exércitos "Pois o SENHOR vosso Deus é o Deus dos deuses, e o Senhor dos senhores, o Deus grande, poderoso e terrível, que não faz acepção de pessoas, nem aceita recompensas" ( Dt 10:17 ); "Porque o SENHOR é Deus grande, e Rei grande sobre todos os deuses" ( Sl 95:3 ; Sl 138:2 ), porém, foi do seu agrado elevar a sua palavra acima de todo o seu nome. Para sua palavra assumir tal posição, ela foi encarnada na condição de unigênito do Pai ( Jo 1:1 e 12).
O propósito que Deus estabeleceu realizar em si mesmo (para louvor e glória de sua graça), ao revelar aos homens, na plenitude dos tempos, o Verbo encarnado "Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens" ( Tt 2:11 ), é fazer com que a sua palavra encarnada tenha a preeminência em tudo, portanto, Ele foi constituído como a cabeça de um corpo "E ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência" ( Cl 1:18 ).
O corpo de Cristo, que é a igreja, é formado por muitos filhos de Deus semelhantes Aquele que os criou "E vos vestistes do novo, que se renova para o conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou" ( Cl 3:10 ), sendo que, na hierarquia celestial, os membros do corpo de Cristo assumiram a mais alta posição, superior a dos anjos, o que os tornam primícias das criaturas de Deus "Segundo a sua vontade, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como primícias das suas criaturas" ( 1Co 6:2 e 3; Tg 1:18 ).
Justamente por ser as ‘primícias’ das criaturas de Deus é que a igreja, geração dos filhos de Deus, serve ao propósito que foi estabelecido em Cristo, pois como cabeça daqueles que são gerados de novo, Ele é preeminente entre muitos irmãos, posição superior a todas as criaturas de Deus "E da parte de Jesus Cristo, que é a fiel testemunha, o primogênito dentre os mortos e o príncipe dos reis da terra. Àquele que nos amou, e em seu sangue nos lavou dos nossos pecados" ( Ap 1:5 ).
É através de Cristo que o propósito de Deus se concretiza "Segundo o eterno propósito que fez em Cristo Jesus nosso Senhor" ( Ef 3:11 ), sendo que através d’Ele, uma nova geração de homens espirituais inscritos nos céus estabelece uma assembleia universal de primogênitos "À universal assembleia e igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus, e a Deus, o juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados" ( Hb 12:23 ).
E não somente isto, Deus propôs fazer também o seu Filho o mais elevado dos reis da terra, concedendo a Ele o trono de Davi e todas as nações por herança "Também o farei meu primogênito mais elevado do que os reis da terra" ( Sl 89:27 ; Sl 2:8 ; Is 52:13 -15).
Enquanto Cristo é a cabeça da igreja, temos o propósito celestial e, Ele como o mais elevado rei da terra, temos o propósito terreno estabelecido através dos filhos de Israel.
É com base no que Deus propôs em Cristo, o Verbo de Deus encarnado, que a sua palavra é alçada acima de todos os nomes pelo qual Deus é nomeado "Inclinar-me-ei para o teu santo templo, e louvarei o teu nome pela tua benignidade, e pela tua verdade; pois engrandeceste a tua palavra acima de todo o teu nome" ( Sl 138:2 ).
Além de conhecido pelo seu poder, magnificência e soberania, foi do agrado de Deus torna-se conhecido pela sua palavra, que é fiel, verdadeira, imutável, etc., o que O levou a elevar a sua palavra acima de todo o seu nome, para que as suas criaturas o sirvam com temor e alegria "Servi ao SENHOR com temor, e alegrai-vos com tremor" ( Sl 2:11 ). ‘Temor’ é o mesmo que a palavra de Deus e, ‘tremor’ é obediência, confiança na sua palavra "Ouvi a palavra do SENHOR, os que tremeis da sua palavra" ( Is 66:5 ; Sl 34:11 ; Sl 86:11 ).
A eleição e a predestinação tem em vista este propósito que Deus estabeleceu em Cristo, sendo que a salvação decorre somente do seu amor e da sua misericórdia.
Em todos os tempos (dispensações) Deus salva os homens que se perderam em decorrência da ofensa de Adão pela sua graça, porém, somente os salvos na plenitude dos tempos, pela graça contida no evangelho, constituem a igreja, o corpo de Cristo, a geração eleita, predestinada para serem conforme a de Cristo.
Somente os salvos na plenitude dos tempos, por intermédio da graça revelada no evangelho, são chamados para fazerem parte do propósito que Deus estabeleceu em Cristo. Deus salva por intermédio do poder contido na sua palavra (evangelho) e chama os que passaram a compor o corpo de Cristo para fazer parte do propósito estabelecido em si mesmo "... antes participa das aflições do evangelho segundo o poder de Deus, que nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos" ( 2Tm 1:9 ; Rm 1:16 ).
Presciência
Soberanamente Deus levou a efeito o seu propósito que estabelecera antes dos tempos imemoriais em Cristo, de fazê-lo preeminente. A vontade de fazer Cristo preeminente é soberana e, não há quem possa se insurgir contra esta vontade e sair vitorioso.
Para levar a efeito o seu propósito eterno, Deus não poupou o seu único Filho e nem os judeus, que eram os ramos naturais ( Rm 8:32 e Rm 11:21 ), e entregou o seu Filho para ser crucificado e morto pela mão de homens injustos. Porém, tudo foi feito sob o conselho da sua vontade e presciência “A este que vos foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, prendestes, crucificastes e matastes pelas mãos de injustos” ( At 2:23 ).
Por que pela presciência? Ora, desde a eternidade, ao estabelecer de antemão que faria Cristo o mais sublime entre sublimes, Deus sabia que a geração de Adão tornar-se-ia imunda, pois todos juntamente em um único evento se desviariam do propósito e da comunhão com Deus através da desobediência de Adão ( Sl 53:3 ; Sl 58:3 ).
Uma prova cabal da presciência de Deus está no fato de, apesar de Cristo ser morto na plenitude dos tempos segundo o conselho de Deus, Cristo foi morto deste a fundação do mundo, ou seja, a presciência estava em ação "E adoraram-na todos os que habitam sobre a terra, esses cujos nomes não estão escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo" ( Ap 13:8 ).
Deus sabia de antemão (presciência) que haveria de entregar o seu único Filho, pois somente o sangue imaculado e incontaminado de Cristo resgataria os homens do domínio do pecado. Pela presciência de Deus, o sangue do cordeiro já era conhecido, ainda na fundação do mundo, porém, tal sacrifício só tornou-se conhecido dos homens na plenitude dos tempos “Mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado, o qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós” ( 1Pe 1:19 -20 ; Hb 9:26 ).
Deus salva os homens pela oferta do corpo de Cristo e, concomitantemente todos que são salvos através do evangelho, que é poder de Deus para salvação dos que creem, também são chamados com uma santa vocação segundo o eterno propósito que fizera em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos "Que nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos" ( 2Tm 1:9 ).
Como o proposto por Deus em Cristo era fazê-lo preeminente em tudo, Deus salva os homens da condenação de Adão através do poder do evangelho e confere aos de novo gerados a condição de semelhantes a Ele, para que Cristo seja o primogênito entre muitos irmãos ( Rm 8:29 ; Cl 3:10 ).
Ao estabelecer o seu propósito eterno de convergir em Cristo todas às coisas, Deus estabeleceu também a vida eterna por intermédio da sua palavra "Em esperança da vida eterna, a qual Deus, que não pode mentir, prometeu antes dos tempos dos séculos" ( Tt 1:2 ).
A promessa de vida eterna é antes dos tempos dos séculos, pois a vontade de Deus desde a eternidade é imutável, sendo conhecido o sangue do Cordeiro antes mesmo da fundação do mundo. Como o cordeiro foi morto antes da fundação do mundo, a esperança de vida eterna é uma promessa efetivada antes dos tempos que se mensuram em séculos.
Cristo é o eleito de Deus para o seu propósito ( Pv 8:23 ). Prescientemente o sangue de Cristo foi conhecido antes dos tempos dos séculos. O beneplácito que Deus propusera em si mesmo era um mistério para as suas criaturas ( Ef 1:9 ; 1Pe 1:12 Ef 3:11 ). O beneplácito proposto por Deus tinha em vista a si mesmo, e não as suas criaturas, ou seja, a preeminência de Cristo em todas as coisas.
Deus não estabeleceu o seu propósito nas suas criaturas, antes estabeleceu o seu propósito em si mesmo, a fim de serem louvor da sua glória. É por isso que o proposto é eterno, pois se centra no Criador e não nas criaturas que não são eternas. Que honra maior pode haver em que as criaturas sejam convidadas a participarem de um propósito concernente a pessoa do Criador?
Quando Deus (Elohim) fez o seguinte acordo na eternidade: “Eu lhe serei por Pai, e tu me será por Filho” ( 2Sm 7:14 ), fez em si mesmo o seu propósito (Ef 1:9 ), e introduziu uma das pessoas da divindade no mundo e estabeleceu por decreto a condição acordada na eternidade: Tu és meu Filho “Proclamarei o decreto: o SENHOR me disse: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei” ( Sl 2:7 ), neste instante surgiu um grande mistério que até os anjos queriam compreender (atentar) "Aos quais foi revelado que, não para si mesmos, mas para nós, eles ministravam estas coisas que agora vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho; para as quais coisas os anjos desejam bem atentar" ( 1Pe 1:12 ).
O que eles queriam atentar (compreender), somente pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus tornou-se conhecida ( Ef 3:9 -10). Somente agora, através da igreja, toda a criação compreende o eterno propósito que Deus fez em Cristo Jesus ( Ef 3:11 ), após Cristo tornar-se a cabeça da Igreja.
Há uma ardente expectativa da criação, pois todos aguardam a revelação dos filhos de Deus. A criação aguarda aqueles que são as criaturas que assumem a condição de primícias do Espírito Eterno ( Rm 8:23 ; Tg 1:18 ).
Eleitos segundo a precedência
"Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça e paz vos sejam multiplicadas" ( 1Pe 1:2 )
A presciência de Deus destaca-se nas mais variadas situações, podendo ser notada em vários eventos das escrituras:- Deus chamou o rei Ciro pelo nome muito antes dele nascer, porém, tal chamado e revelação não concedeu salvação ao rei Ciro ( Is 44:28 );
- Os sonhos de José demonstram a presciência de Deus ( Gn 37:5 );
- Moisés anunciou que o povo de Israel afastar-se-ia de Deus ( Dt 32:5 );
- Jesus previu que o apóstolo Pedro o negaria antes que o galo cantasse por três vezes ( Mt 26:34 ).
- Cristo foi conhecido antes da fundação do mundo ( Jo 17:24 );
- A semente de Cristo foi prevista em oposição a semente da serpente ( Gn 3:15 );
- A linhagem de Cristo foi prevista ( Gn 12:3 );
- O nascimento virginal foi previsto ( Is 7:14 );
- A traição dos mestres da lei ( Sl 49 )
- A crucificação foi prevista ( Sl 22:16 );
- A morte e ressurreição foram previstas ( At 2:31 );
- A glória futura de Cristo foi prevista ( Is 52:13 ; 1Pe 1:12 ), etc.
Suprimir a ideia da presciência de Deus tomando-a como vontade-prévia para explicar a eleição e a predestinação não é o que a bíblia apresenta. Deus conhece todas as coisas, e o futuro está incluso neste conhecimento, porém, isto não significa que Ele pré-ordenou os eventos futuros.
Apresentar a presciência como pré-ordenação é um equivoco, pois vincula a presciência à salvação, sendo que a presciência tem em vista o propósito estabelecido em Cristo ( Ef 1:9 ; Cl 1:18 ).
Eleição
Deus Pai presciente elegeu os cristãos santificando-os. Como? Os eventos seguem a seguinte ordem: Deus santificou (separou para si) os cristãos purificando as suas almas através da obediência à verdade do evangelho (nação santa, povo adquirido 1Pe 2:9 -10), pois só através da obediência ao evangelho há a aspersão do sangue ‘conhecido’ por Deus antes da fundação do mundo ( 1Pe 1:2 ; 19 e 22).
Ao ser santificado pela aspersão do sangue (morte com Cristo), os cristãos ressurgem uma nova criatura (regenerados), não de uma semente terrena e corruptível, mas da semente espiritual e incorruptível, que é a palavra de Deus. Cristo é a pedra viva, eleita e preciosa, pois foi conhecido e escolhido antes da fundação do mundo segundo o eterno propósito ( Ef 3:11 ) e, através d’Ele os cristãos também tornaram-se pedras vivas.
Deus elegeu a Cristo para ser preeminente em todas as coisas e, todos aqueles que são gerados de novo foram eleitos n’Ele antes da fundação do mundo. Deus escolheu, segundo o seu propósito, os descendentes do Descendente prometido a Abraão. A geração de Cristo é a geração eleita segundo o beneplácito que Deus propusera em Cristo ( Ef 1:9 ): a preeminência de Cristo em tudo!
Quando os cristãos foram eleitos? Antes da fundação do mundo. Como foram eleitos? Antes da fundação do mundo Deus escolheu o seu Filho unigênito e os seus descendentes espirituais. É por isso que o apóstolo Paulo deixa claro que os cristãos foram eleitos n’Ele, pois as promessas foram feitas à descendência do Descendente de Abraão, que é Cristo ( Gl 3:16 ).
Somente pela fé em Cristo os homens são salvos e, concomitantemente recebem a adoção de filhos de Deus em vista do propósito eterno ( Gl 3:26 ), diferente da ideia de que é pela eleição e predestinação que os homens são salvos.
Quando se crê em Cristo o homem é batizado em Cristo, isto é, na sua morte, e só então, se reveste de Cristo, isto é, ressurge semelhante a ele ( Gl 3:27 ; Rm 6:3 ). Ao ser gerado do Descendente de Abraão, além da salvação da condenação de Adão, o homem torna-se semelhante à expressa imagem do Deus vivo (filho de Deus) e herdeiro da mesma promessa ( Gl 3:29 ). Por causa da sua descendência, Cristo é alçado à posição de primogênito entre muitos irmãos semelhantes a Ele "Isto é, que o Cristo devia padecer, e sendo o primeiro da ressurreição dentre os mortos, devia anunciar a luz a este povo e aos gentios" ( At 26:23 ; 1Jo 3:2 ; 1Jo 4:17 ).
Os filhos da ofensa
Todas as vezes que o apóstolo Paulo faz referência à antiga condição dos cristãos quando sob o pecado, ele sempre o faz nos seguintes termos: filhos da ira, filhos da desobediência, trevas, filhos das trevas, mortos em delitos e pecados, ignorantes, entenebrecidos no entendimento, etc., porém, em nenhuma referência a antiga condição dos cristãos é utilizado o termo ‘eleitos’ e ‘predestinados’.
Não há na bíblia a seguinte afirmação: “Noutro tempo éreis eleitos...”, antes só encontramos as seguintes expressões: “Noutro tempo éreis trevas, filhos da ira, vasos para desonra, plantas que o Pai não plantou, filhos da desobediência, etc.”. Diante de tantos adjetivos acerca da antiga condição daqueles se tornaram eleitos, como explicar o motivo pelo qual o apóstolo Paulo se esqueceu de mencionar a antiga condição das novas criaturas como eleitos?
Somente os cristãos são nomeados de eleitos de Deus. Somente os cristãos, por serem membros do corpo de Cristo, são eleitos, condição adquirida antes da fundação do mundo por causa do Descendente, não por obras de justiça que houvessem feito, antes pelo simples fato de serem gerados d’Ele: geração eleita.
O apóstolo Paulo é específico ao demonstrar que Deus elegeu os cristãos e não os incrédulos ao utilizar o pronome na 1º pessoa do plural: nos (cristãos) elegeu! ( Ef 1:4 ).
O apóstolo Pedro também demonstra que os eleitos são os cristãos: “Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos eleitos que são forasteiros da Dispersão...” ( 1Pe 1:1 ) Almeida RA, e no verso 9, do capítulo 2 da mesma epístola, ele explica que os cristãos são eleitos por fazerem parte de uma geração eleita ( 1Pe 2:9 ).
Esta é uma condição própria aos que foram assentados em Cristo nas regiões celestiais. Diz somente daqueles que já entraram no descanso proposto ( Hb 4:3 ).
Onisciência
A presciência é um ramo da onisciência, que por sua vez é um dos atributos de Deus, assim como o é a onipotência e a onipresença. Enquanto a presciência é parte, a onisciência é o todo, ou seja, é impossível separar a presciência da onisciência como se ela fosse, por si só, um atributo específico.
Por oniciência entende-se que Deus conhece todos os eventos no passado, no presente e no futuro (espaço-tempo), e na eternidade. Nada escapa aos ‘olhos’ de Deus. Por isso ele chama à existência as coisas que não são como se já fossem "(Como está escrito: Por pai de muitas nações te constituí) perante aquele no qual creu, a saber, Deus, o qual vivifica os mortos, e chama as coisas que não são como se já fossem" ( Rm 4:17 ).
Deus, de antemão nomeou Abraão como Pai de muitas nações: temos aqui a grandeza da presciência demonstrada aos homens, visto que Abraão nem mesmo podia ter filhos.
Como Deus conhece todos os eventos: no passado, no presente e no futuro, é certo que ele sabe de antemão quem são os salvos e quem são os perdidos, porém, isto não quer dizer que Ele, unilateralmente, preordenou quem seriam os salvos e quem seriam os perdidos. Esta visão fatalista e determinista não é conforme a verdade bíblica, pois Deus não interfere no livre-arbítrio dos homens para fazê-los crer ou não. Embora Deus saiba de antemão todas as coisas, o prévio conhecimento de Deus não determina e nem vincula a condição futura do homem: se perdido, ou se salvo.
A bíblia demonstra que a perdição do homem foi determinada pela ofensa de Adão e não pela presciência de Deus. De igual modo, a bíblia demonstra que a salvação decorre da misericórdia de Deus, bastando ao homem aceitar a oferta de redenção.
Constitui-se mérito aceitar a salvação?
O fato de aceitar a oferta não seria mérito por parte do homem? Não! A ordem é clara: “Entrai pela porta estreita!” ou, “Necessário vos é nascer de novo”. O fato de o homem sedento beber da água da vida que Cristo dá não lhe confere mérito. O fato de o homem deixar que o Senhor o lave de toda imundície através do lavar regenerador não lhe confere mérito algum.
Quando Deus diz: “Olhai para mim e sereis salvos...” ( Is 45:22 ), o fato de o homem olhar, não lhe confere mérito, antes o olhar demonstra que o homem confiou na palavra que lhe foi anunciada. Qualquer que não olhar para aquele que oferta salvação, demonstra simplesmente que não creu na palavra de Deus.
Neste quesito, o apóstolo Pedro é exemplo fundamental. Quando convencido da necessidade de Jesus lavar-lhe os pés, logo se apresentou e: “Disse-lhe Simão Pedro: Senhor, não só os meus pés, mas também as mãos e a cabeça” ( Jo 13:9 ). Caso o apóstolo Pedro não consentisse que Cristo lavasse os seus pés, por não se sentir merecedor, não seria lavado.
Esta passagem bíblica demonstra que, quem rejeita a oferta de salvação por se achar indigno (auto reprovação), e quem acredita que é digno de aceitá-la em vista de algum mérito estão em pé de igualdade: não tem parte com Cristo.
Apresentar-se diante de Deus para ser lavado de suas imundícies demonstra que o homem confia que Deus é poderoso para limpá-lo, o que não demanda esforço da parte do homem, demanda somente a vontade de Deus que propôs lavá-lo. A ação é de Deus, visto que Jesus trouxe a vasilha, a água,a toalha e as mãos.
Por se considerarem ‘extremamente’ perdidos, muitos se sentem indignos de até mesmo aceitarem o que Deus propõe, porém, se o homem não aceitar a oferta de salvação que Deus lhe oferece, lavar-lhe da imundície da carne, não terá parte com Deus “Se eu te não lavar, não tens parte comigo” ( Jo 13:18 ).
A perdição do homem deu-se em Adão, sendo todos igualmente encerrados debaixo do mesmo pecado: sem exceção alguma. Com relação à salvação, não é o prévio conhecimento de Deus (presciência) que determina quem será salvo ou não, antes a salvação está condicionada à resposta que o homem morto em delitos e pecado dá a seguinte convocação: “Olhai para mim e sereis salvos...” ( Is 45:22 ), pois somente deste modo viverá ( Jo 11:25 ; Dt 8:3 ).
A palavra que diz “... que o homem não viverá só de pão, mas de tudo o que sai da boca do SENHOR viverá o homem" ( Dt 8:3 ), demonstra que o homem precisa da palavra do Senhor para viver, visto que está morto. Que para obter vida não depende do pão cotidiano, mas da palavra que produz vida em abundância.
Embora Deus saiba de antemão todas as coisas, vê-se que, com relação ao passado, Deus pedirá conta aos homens do que passou, o que demonstra que cada pessoa é livre e tem sobre si a oportunidade de mudar a sua condição e destino "O que é, já foi; e o que há de ser, também já foi; e Deus pede conta do que passou" ( Ec 3:15 ).
O Pregador demonstra que todos os eventos que o homem considera como sendo presentes e futuros, para Deus é passado, e que Ele pede conta de toda a existência do homem. Ora, se Deus pré-ordena os salvos pela presciência, rejeitando o restante da humanidade, não há porque Ele pedir conta do que passou aos homens, visto que pediria conta dos seus próprios atos.
Mas, considerar que Deus está presente e vê todos os homens e as suas ações (onipresença e onisciência), e que a presença de Deus não tolhe e nem exerce influencia na liberdade do homem, temos a soberania de Deus e a liberdade do homem em perfeito equilíbrio, sendo que no exercício da sua liberdade o homem pecou e, Deus providenciou salvação em Cristo por ser misericordioso.
A presciência de Deus não determinou a queda, porém, devido à liberdade que o homem recebeu, ela foi prevista, visto que Deus providenciou o Cordeiro que foi morto na fundação do mundo. Embora a queda foi prevista, ela não foi preordenada, antes ocorreu em decorrência da desobediência de Adão, fruto do exercício da sua liberdade. A doutrina da reprovação incondicional é antibíblica, pois a bíblia demonstra que está condenado quem não crer ( Jo 3:18 ), ou seja, a condenação e a salvação são condicionadas ao crer.
A presciência de Deus não é determinista porque ele mesmo diz que o dia de hoje é um dia sobre modo oportuno e aceitável "(Porque diz: Ouvi-te em tempo aceitável E socorri-te no dia da salvação; Eis aqui agora o tempo aceitável, eis aqui agora o dia da salvação)" ( 2Co 6:2 ). Se o Senhor apresenta o ‘agora’ como tempo aceitável, certo é que a sua presciência não é determinista (que Deus previamente traçou os eventos futuros ao homem), pois se assim fosse, o tempo de salvação seria na eternidade, e não ‘hoje’. A oração do salmista seria sem sentido: "Eu, porém, faço a minha oração a ti, SENHOR, num tempo aceitável; ó Deus, ouve-me segundo a grandeza da tua misericórdia, segundo a verdade da tua salvação" ( Sl 69:13 ).
Deus não determinou quem eram os perdidos na eternidade, antes a bíblia demonstra que todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus por causa de uma única transgressão que se deu no tempo dos homens ( Rm 3:23 ). Não foi Deus quem determinou, por ser presciente, quem haveria de se perder, antes todos se extraviaram e juntamente se fizeram imundos em Adão, que fez uso da liberdade para fazer o que era inconveniente ( Rm 3:12 ). Ou seja, estar perdido é uma condição decorrente da decisão que Adão fez de desobedecer, o que tornou todos os homens filhos da ira e da desobediência. Tal condição não foi estabelecida pela presciência e nem pela soberania divina.
O determinado conselho expresso, previu que Deus havia de justificar os crentes pela fé "Ora, tendo a Escritura previsto que Deus havia de justificar pela fé os gentios, anunciou primeiro o evangelho a Abraão, dizendo: Todas as nações serão benditas em ti" ( Gl 3:8 ), o que difere da ideia arminianista de que, Deus previu quem teria fé e, portanto, os elegeu para serem salvos. O evangelho anunciado a Abraão era previsto no seu conselho, de que Deus justificaria os que cressem pela fé que havia de se manifestar, o que não condiz com a ideia de que Deus escolheu pela presciência quem haveria de justificar ( Gl 3:23 ; ).
Não há base bíblica para a reprovação incondicional, pois a condenação decorre de um só que pecou, ou seja, ela é condicionada a ofensa de um só homem. De uma única ofensa de Adão veio o juízo sobre todos os homens para condenação e a pena foi a alienação de Deus: morte ( Rm 5:18 ).
Como a perdição é condicionada a ofensa de Adão, a salvação não pode ser incondicional, antes é condicionada a obediência de um homem: Jesus Cristo, o último Adão ( Rm 5:19 ).
Após a queda da humanidade, a redenção passou a ser condicionada ao Descendente da mulher ( Gn 3:15 ), e o dia chamado ‘hoje’ é o dia oportuno de salvação. Se a salvação e a perdição fossem incondicionais, o ‘hoje’ não seria o momento de salvação, ou o ‘dia’, ou o ‘ano’ sobre modo oportuno, antes a oportunidade e o dia de salvação estaria na eternidade, antes que houvesse mundo, pois lá seria estabelecido os perdidos e os salvos ( Is 61:2 ; Hb 3:7 ; ).
O convite de salvação é especifico: "Olhai para mim, e sereis salvos, vós, todos os termos da terra; porque eu sou Deus, e não há outro" ( Is 45:22 ). Basta olhar para Deus que o homem será salvo, ou seja, a salvação não é unilateral.
Existe uma teoria que afirma que o homem é tão depravado que, para olhar para Deus é necessário uma graça preveniente, o que remonta a teologia de Santo Agostinho (maniqueísta e neoplatonista), pois entende que, se o homem voluntariamente atender o chamado ‘Olhai para mim...’ e olhar para aquele que o chama, a salvação já não é por fé, mas por obras. Grande engano, pois a atitude deles é semelhante a do apóstolo Pedro “Nunca me lavarás os pés” ( Jo 13:8 )!
Quando Deus diz: “Olhai para mim e sereis salvos”, ele está conscientizando os seus ouvintes de que estão perdidos, ou seja, mortos (separados) em delitos e pecados. Estão em uma condição semelhante a dos filhos de Israel que pecaram e foram mordidos por serpentes ardentes. Todos que estavam picados estavam condenados à morte e, bastava somente um olhar na direção da serpente de metal para serem curados, ou seja, necessitam crer na palavra que diz: “Olhai para mim...”.
‘Olhar’ refere-se ao resultado da confiança que os ouvintes exerceriam na palavra anunciada por Moisés, que diz: “... e será que viverá todo o que, tendo sido picado, olhar para ela” ( Nm 21:8 ) . Como a fé vem pelo ouvir, ao ouvir a palavra da fé (firme fundamento), os picados mortalmente pelas serpentes eram sarados. Quando Deus diz: “Olhai para mim e sereis salvos”, o olhar demonstra que a salvação é por fé somente, pois para o homem olhar para quem diz ‘Olhai para mim’, significa que o homem conscientizou-se da sua real condição (pecado), e creu naquele que prometeu (viverá).
Neste sentido é que Cristo foi levantado da terra, para que todo aquele que olhe (crê) para ele seja salvo ( Jo 3:14 -15). E para quem Cristo foi erguido? Para alguns indivíduos selecionados previamente? Não! Ele foi erguido para que todos os termos da terra pudessem vê-lo “E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado; Para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” ( Jo 3:14 -15), pois todos os homens estavam mortos por causa do veneno da serpente no Éden.
Um calvinista dirá que o homem está morto e, que, portanto, não poderá atender o chamado, sem antes ser regenerado, ou que a graça de Deus para os eleitos é diferenciada, sendo irresistível. Porém Jesus disse “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá" ( Jo 11:25 ), ou seja, o homem morto em delitos e pecados é dotado da capacidade de crer ou não em Cristo e, dependendo da resposta que der ao convite de salvação, viverá ou permanecerá morto.
Jesus demonstrou que é Ele que concede vida aos mortos, ou seja, é Ele que desfaz a barreira de inimizade entre Deus e os homens, reconciliando o homem com Deus. Quando Ele diz: “Quem crê em mim...”, a mensagem dele tem por alvo os que necessitam de vida. Quando ele diz: “ainda que esteja morto”, aponta a real condição do homem sem Deus: separado, alienado da vida que há em Deus. Por fim, a vida, a ressurreição dentre os mortos, é o que Ele oferece. Todos os mortos que olham para Cristo obtém vida!
Jesus, o pão vivo que desceu dos céus, somente repetiu o anunciado por Deus ao povo de Israel através de Moises: "E te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conheceste, nem teus pais o conheceram; para te dar a entender que o homem não viverá só de pão, mas de tudo o que sai da boca do SENHOR viverá o homem" ( Dt 8:3 ). A mensagem do evangelho serve para dar a entender aos homens separados de Deus (mortos) que Cristo concede vida, visto que eles estão entenebrecidos no entendimento.
Estão separados de Deus pela dureza de coração ao rejeitarem o dom de Deus, mas, se aquiescerem à luz do evangelho, são salvos "Entenebrecidos no entendimento, separados da vida de Deus pela ignorância que há neles, pela dureza do seu coração" ( Ef 4:18 ). O povo de Israel sofreu quarenta anos no deserto porque Deus queria livrá-los da ignorância.
É necessário crer na ressurreição e na vida para que o homem morto possa obter vida. A inversão ‘regeneração para depois crer’ perpetrada pelos calvinistas nega a eficácia da palavra de Cristo, pois para beber da água que concede vida é necessário ter sede. Deus não sacia primeiramente a sede para depois servir a água que concede vida ao homem ( Jo 4:14 ).
Todos os homens sem Deus têm sede, porém, muitos saciam sua sede em fontes rotas. Porque uns saciam a sua sede em Cristo e outros não? Porque muitos estão saciados em seus próprios conceitos, religiosidade, moralidade, legalidade, ritualismo, etc.
Através da entrega do corpo de Cristo, Deus anuncia para a humanidade presa ao pecado (vivo para o pecado) que há um novo e vivo caminho para os homens que quiserem unir-se a Deus (viver unido a Deus). Qual é o caminho? O caminho é Cristo, e todos que entram por Cristo se conformam com Ele na morte, ou seja, morre para o pecado.
Os calvinistas e arminianistas apontam a impossibilidade de o homem se salvar como sendo ‘depravação total’, ou seja, consideram a impossibilidade de se salvar como sendo ‘inabilidade’ para aceitar a salvação ofertada por Deus.
A impossibilidade de salvação diz somente que o homem não possui os meios para promover a sua própria salvação, ou seja, a mensagem de Deus tem por objetivo alcançar o intelecto do homem de modo que venha a aceitar a salvação providenciada por Deus “Mas, o que foi semeado em boa terra é o que ouve e compreende a palavra; e dá fruto, e um produz cem, outro sessenta, e outro trinta” ( Mt 13:23 ), desfazendo a ignorância que os mantém separados de Deus "Entenebrecidos no entendimento, separados da vida de Deus pela ignorância que há neles, pela dureza do seu coração" ( Ef 4:18 ).
O único modo de o homem ver-se livre do pecado é morrendo para ele. Somente a morte livra o homem do pecado. Se o homem descer à sepultura como servo do pecado, segue para o juízo final, onde suas obras serão julgadas. Mas, se antes de descer a sepultura, morrer com Cristo, o homem é livre do pecado e passa a ser servo da justiça, sendo que as suas obras serão julgadas no Tribunal de Cristo.
O convite do evangelho resume-se na premissa: morram com Cristo para que possais compartilhar da vida que há em Deus. Todos os famintos e sedentos devem comer da carne e beber do sangue de Cristo. Há uma só carne e um só sangue pelo qual os homens são salvos, ou seja, não há graça comum e graça superior. Não há graça resistível ou irresistível, antes há somente uma graça, a Graça de Deus “Isto é, a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos e sobre todos os que creem; porque não há diferença. Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus; Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus” ( Rm 3:22 -24).
Conclusão
Os atos de Deus decorrem única e exclusivamente da sua vontade, porém, quando o seu propósito é expresso, o homem é inteirado do seu conselho. Tudo o que Deus faz é segundo o seu conselho, ou seja, segundo a sua palavra, que é Cristo, o Verbo encarnado ( At 4:28 ; At 20:27 ; Hb 6:17 ).
Da onisciência, que é um dos atributos de Deus, decorre a presciência, que não é um ato e nem uma qualidade de Deus. A palavra presciência, quando se refere a acontecimentos futuros, também não diz de um atributo de Deus, pois o atributo é a onisciência.
Os atributos referem-se à natureza de Deus e eles não influenciam e nem interferem nas decisões de suas criaturas.
Deus é onipresente e a sua onipresença não influencia as decisões de suas criaturas. A presença de Deus é soberana e onipotente, mas não influenciou a decisão de Adão quando comeu do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Deus está presente em todos os momentos e lugares, mas a sua presença não impediu Caim de matar Abel. A onipresença de Deus é imanente, ou seja, existe sempre n’Ele e é inseparável d’Ele.
Concomitantemente a onisciência e a onipotência de Deus são imanentes. Apesar de, através da sua onipotência, Deus ter dado origem a todas as coisas, Deus não interfere nas decisões de suas criaturas por ser onipotente ( Jó 37:23 ). Apesar de presenciar todos os eventos materiais e espirituais pela sua onipresença, tal atributo divino não interfere nas decisões de suas criaturas.
Assim também, a presciência de Deus é imanente, posto que é um dos aspectos da sua onisciência. A presciência de Deus jamais preordena eventos que aos olhos dos homens são tidos por futuros, visto que, para Deus nada há de futurístico.
A presciência não pode ser considerada como ato divino, e nem implica em pré-ordenação. Os atos de Deus decorrem somente da sua vontade, e não dos seus atributos "Nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados, conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade" ( Ef 1:11 ).
O calvinismo adota a presciência como pré-ordenação para conceder à eleição e a predestinação ‘status’ de ato divino, como se ambas, a eleição e a predestinação tivessem em vista as criaturas de Deus, porém, a eleição e a predestinação tem em vista o propósito eterno que Deus determinou em Cristo ( Ef 1:9 ). A presciência refere-se somente ao conhecimento que Deus detém do curso integral de todos os acontecimentos que são futuros do ponto de vista das suas criaturas.
Ao adotar a presciência como ato divino, alguns calvinistas estipulam que ela 'quase' tem o significado de 'pré-ordenação', mas quando evoluem a abordagem, equiparam a presciência a preordenação calcados na concepção que formularam entorno do termo ‘conhecer’.
Como no Antigo Testamento o termo ‘presciência’ não existe, porém, tem-se o termo ‘conhecer’ e, todas as vezes que o termo ‘conhecer’ refere-se às ações dos homens, apontam o ‘conhecer’ como sendo previsão divina e, se o termo ‘conhecer’ refere-se às pessoas, amalgamam ao termo ‘conhecer’ a ideia de um favor ou de uma afeição divina para com o indivíduo, de onde surge a ideia de que presciência é preordenar.
Tal construção é feita pelo fato de o termo 'presciência' não existir no Antigo Testamento e, confundem a presciência com a ideia que deriva do termo 'conhecer', como se o termo 'conhecer' implicasse afeição para com a pessoa em vista.
Observe os seguintes versos:
- "Antes que te formasses no ventre te conheci" ( Jr l:5 ) – neste verso o termo ‘conhecer’ indica presciência, mas não indica preordenar para salvação, visto que Jeremias foi comissionado para profetizar acerca das nações ( Jr 1:10 );
- "De todas as famílias da terra só a vós vos tenho conhecido" ( Am 3:2 ) – neste verso o termo ‘conhecer’ não refere-se à presciência, antes indica que Deus escolheu o povo de Israel como propriedade, o que tornou o povo de Israel separado das demais nações ( Dt 7:6 );
- "Porque o Senhor conhece o caminho dos justos" ( Sl 1:6 ) – neste verso o termo ‘conhecer’ indica comunhão, união íntima, estar ligado a, pois o Senhor é o caminho dos justos ( Jo 14:6 ).
A palavra 'conhecer' é utilizada varias vezes no Novo Testamento, porém, o sentido da palavra, além de ‘saber acerca de’, ‘ter ciência de’, etc., é comunhão íntima ou estar intimamente ligado a "E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci" ( Mt 7:23 ).
Concluir que neste verso 'conhecer' significa que Jesus nunca soube da existência deles ou, que não os elegeu, escolheu e nem preordenou para a salvação não é o que a bíblia apresenta, visto que, tal termo significa exclusivamente que tais pessoas nunca tornaram se um com Ele e o Pai ( Jo 17:21 ).
Quando Jesus disse: "Eu sou o bom pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido" ( Jo 10:l4 ), ou "Mas, se alguém ama a Deus, este é conhecido dele" ( 1Co 8:3 ), ou "O Senhor conhece os que são seus" ( 2Tm 2:19 ), o termo expressa comunhão íntima, ou seja, refere-se ao grande mistério expresso pelo apostolo Paulo: “Porque somos membros do seu corpo, da sua carne, e dos seus ossos. Por isso deixará o homem seu pai e sua mãe, e se unirá a sua mulher; e serão dois numa carne. Grande é este mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da igreja” ( Ef 5:30 -32).
O 'conhecimento' que os versos acima expressam refere-se a tornar-se uma só carne, um só corpo com Cristo, ou seja, o 'conhecimento' de Cristo limita-se aos salvos, porém, isto não significa eleição por afeição ou preordenação.
Podemos dizer que Deus conhece (onisciência ou presciência) a todos os homens, mas nem todos são ‘conhecidos’ (comunhão intima) d'Ele ( Gl 4:9 ), pois Ele só tem comunhão íntima, ou conhece, aqueles que O amam ( 1Co 8:9 ), ou seja, que guardam os seus mandamentos.
A presciência de Deus refere-se tanto às pessoas quanto às suas ações, portanto a concepção calvinista de que a 'presciência de pessoas' significa pré-conhecer com propósito benigno não é o que a bíblia apresenta. Tal engano induz o interprete a considerar que Romanos 8, verso 29, indica que o primeiro ato da benevolência de Deus para com os pecadores é 'pré-conhecê-los'.
A interpretação do verso: "Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho" ( Rm 8:29), é a seguinte: tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus, ou seja, tudo concorre para o bem daqueles que tem misericórdia ( Os 6:6), porém, o apóstolo Paulo é mais específico: daqueles que amam a Deus, ou seja, os que amam a Deus também são chamados segundo o seu propósito ( Rm 8:28 ).
Como ser chamado de Deus, ou como amar a Deus? Deus responde: "E faço misericórdia a milhares dos que me amam e guardam os meus mandamentos" ( Dt 5:10 ), e Jesus complementa: "Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele" ( Jo 14:21 ).
Em resumo, tudo concorre para o bem daqueles que ‘tem e guarda os mandamentos de Jesus’. Estes amam a Deus e são amados do Pai. Estes são os chamados segundo o propósito de Deus!
Os que Deus anteriormente conheceu referem-se aos que foram regenerados, pois somente na regeneração o homem torna-se um com o Pai e com o seu Filho (conhecer). Quando regenerado, o novo homem faz parte da nova geração, a geração eleita, predestina a ser filho, ou seja, o verso 29 reafirma o que foi dito no verso 28.
‘Ser regenerado’, ‘conhecer’, ‘tornar-se um com Cristo’ são formas diferentes de fazer referência a um mesmo evento e condição, daí temos que os que conheceram a Deus tem um destino predefinido: serem conforme a imagem de Cristo.
Os que amam a Deus são os que se tornaram um só corpo com o Pai e o Filho e, estes, por sua vez, foram chamados segundo o propósito que Deus estabeleceu em si mesmo, visto que foram destinados a serem recebidos como filhos por adoção.
Por que foram predestinados a serem conforme a imagem de Cristo? Tendo em vista o propósito estabelecido em Cristo ( Ef 3:11 ), que é Cristo preeminente, ou seja, o preeminente como primogênito entre muitos irmãos ( Rm 8:29 ).
O termo ‘dantes’ no verso 29 não pode ser tomado como ‘presciência’, antes significa ‘anteriormente’. O verso contém a mesma ideia exarada no seguinte versículo: "Mas agora, conhecendo a Deus, ou, antes, sendo conhecidos por Deus, como tornais outra vez a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir?" ( Gl 4:9 ). Seria a seguinte leitura: “Sabemos que todas as coisas concorrem para o em daqueles que amam (conheceram) a Deus (...) Pois os que dantes (anteriormente) conheceu...” (parafraseando o apóstolo Paulo).
Estes versos não dizem que Deus olhou unilateralmente para alguns pecadores específicos com favor gracioso para salvá-los da condenação de Adão, antes demonstra que os misericordiosos (que o amam) tornaram-se um com Ele e o seu Filho, e que, portanto, serão semelhantes a Seu Filho glorioso.
Os versos demonstram que Deus torna-se um (conhece) com aqueles que o amam (guardam os seus mandamentos), e que estas pessoas que o conheceram, ou antes, foram conhecidas d’Ele, também foram predestinadas em decorrência do que propusera em si mesmo, a serem filhos por adoção ( Ef 1:9 ).
Ora, todos que conhecem a Cristo, ou seja, que se tornaram um só corpo com Ele, foram gerados de novo e, portanto, são uma nova geração, a geração eleita. São destinados a serem filhos porque foram gerados de novo através do lavar regenerador do evangelho.
Devemos ter em mente que Deus escolheu um povo, o povo de Israel, não para serem salvos, antes para preservar a linhagem do Messias, porém, Deus não os rejeitou como nação por causa da sua promessa aos pais: Abraão, Isaque e Jacó ( Rm 11:28 -29).
Agora, através da igreja, ou seja, daqueles que ‘conheceram’ a Deus, os salvos são a descendência de Cristo, geração eleita por causa do Descendente. Individualmente todos os que são conhecidos de Deus são salvos por causa da promessa do evangelho que foi primeiramente anunciado a Abraão ( Gl 3:8 ), tornando-se os bem-aventurados filhos de Abraão.
Os cristãos são os "eleitos” ( 1Pe 1:2 ), porém, a eleição não é baseada na presciência de Deus e nem a salvação é fruto de um olhar diferenciado de Deus para algumas pessoas previamente escolhidas para obedecerem o evangelho (fé), para só então, serem agraciados com a aspersão do sangue de Cristo. Se a eleição fosse para a salvação, a salvação não seria pela fé em Cristo. Os calvinistas acreditam que os eleitos são justificados (salvos) por Deus e que tal escolha deve ser complementada pela fé no sangue de Cristo.
Para compreender a primeira epístola de Pedro, capítulo 1, verso dois, temos que ter em mente que o propósito de Deus é um beneplácito proposto em si mesmo e os cristãos foram chamados para fazerem parte deste propósito grandioso ( Ef 1:9 ). Devemos ter em mente que ‘os estrangeiros da dispersão’ são designados eleitos em decorrência do que Deus propôs em si mesmo (preeminência de Cristo), e não que o propósito d'Ele tenha em vista somente os cristãos (salvação).
A eleição é baseada na pessoa de Cristo ( Ef 1:4 ; Ef 3:11 ), e não na presciência. A eleição é para o propósito estabelecido em Cristo e não nos homens. Como o tempo da eleição se deu antes da fundação do mundo, o evento antecipado segundo a presciência de Deus Pai foi a santificação do Espírito para a obediência e aspersão do sangue de Cristo.
Observe a seguinte tradução bíblica interlinear do Novo Testamento: “Pedro apóstolo de Jesus Cristo a (os) eleitos forasteiros de (a) dispersão de (o) Ponto, de (a) Galácia, de (a) Capadócia, de (a) Ásia e de (a) Bitínia, segundo (a) presciência de Deus Pai em santificação de (o) Espírito para obediência e aspersão...” 1Pe 1:1- 2 Novo Testamento Interlinear Grego-Português SBB (grifo nosso).
Agora, observe a seguinte tradução bíblica e compare: “Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos estrangeiros da dispersão, no Ponto, na Galácia, na Capadócia, na Ásia e na Bitínia, eleitos segundo a presciência de Deus Pai, na santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça e paz vos sejam multiplicadas” 1Pe 1:1 -2 – Bíblia Sagrada, Antigo e Novo Testamento, Edição Contemporânea, Ed. Vida.
O apóstolo Pedro escreveu aos eleitos de Deus, forasteiros da dispersão, o que é completamente diferente de dizer que ele escreveu aos estrangeiros da dispersão, eleitos segundo a presciência de Deus. Os cristãos são eleitos em Cristo, e a presciência está relacionada com o sangue de Cristo, visto que o Cordeiro de Deus foi morto antes da fundação do mundo para obediência e aspersão do sangue de Jesus.
A presciência não está no fato de que Deus previu ou preordenou quem seriam, nestes últimos tempos, os homens agraciados com o sangue de Cristo para serem salvos, antes a presciência está no fato de que o sangue de Cristo foi conhecido ainda antes da fundação do mundo para obediência e aspersão “Mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado, o qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós” ( 1Pe 1:19 -20).
Novamente reitero: a presciência é um aspecto da onisciência de Deus, portanto a eleição não decorre da onisciência. A presciência é imanente, assim como a onipresença também. Deus é onisciente porque é onipresente. Como Ele pode estar em todos os lugares e tempos simultaneamente, segue-se que daí advém a sua onisciência. Mesmo Deus sendo onipresente, nada emana d’Ele que possa alterar as decisões de suas criaturas, e o mesmo podemos dizer da sua presciência: ela nada preordena.
A eleição é segundo o beneplácito que Deus propôs em Cristo, pois Ele escolheu a Cristo e a sua geração: a geração eleita. Para levar a efeito o que propusera em Cristo, o Cordeiro de Deus, prescientemente foi morto desde a fundação do mundo, para que na plenitude dos tempos fosse possível a santificação do Espírito, que se dá através da aspersão do sangue de Cristo após a obediência ao evangelho ( 1Pe 1:11 ).
A presciência de Deus aparece nas escrituras intimamente associada à pessoa e sacrifício de Cristo ( At 2:23 ; 1Pe 1:2 ), e a eleição e a predestinação ao propósito que Deus propôs em si mesmo, ou seja, na pessoa de Cristo ( Ef 1:9 ; Ef 3:11 ).
Qual a ordem cronológica dos eventos expresso no verso 30, de Romanos 8?
“E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou” ( Rm 8:30 ).
Como já analisamos anteriormente, todos que se tornaram um com Cristo (conheceu) possuem um único destino: ser conforme a imagem de seu Filho “Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos” ( Rm 8:29 ).Geralmente o apóstolo Paulo apresenta inicialmente a condição atual dos cristãos para depois demonstrar qual era a antiga condição deles ( Ef 1:13 e Ef 2:1 ). No verso em comento não é diferente: “Aos que predestinou” refere-se à condição atual dos cristãos, pois agora são filhos de Deus, coerdeiros com Cristo, predestinados a serem conforme a imagem do seu Filho ( Rm 8:29 ; 1Jo 3:1 ).
No verso 30 o apóstolo Paulo retroage os eventos no tempo: aos que predestinou, a estes também chamou, ou seja, o evento anterior a predestinação é o chamamento, conforme se lê: “Que nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos” ( 2Tm 1:9 ).
O chamado é uma santa vocação segundo o propósito que Deus estabeleceu antes dos tempos dos séculos em Cristo, mas que é concedido aos cristãos por estarem em Cristo (por conhecê-Lo).
Retroagindo os eventos no tempo, o apóstolo Paulo descreve: “... e aos que chamou a estes também justificou...”, ou seja, a justificação é o que antecede o chamado de Deus para o seu propósito.
A justificação resulta do ato criativo de Deus, que declara justos aqueles que ressurgem com Cristo. Quando Deus cria o novo homem, gerado de novo pelo Seu poder (evangelho), Ele faz os homens justos e os declara justos.
E no que consiste a glorificação? A glorificação refere-se ao evento anterior à justificação. Leia: "Porque aquele que está morto está justificado do pecado" ( Rm 6:7 ), ou seja, se o homem morreu com Cristo, livre está do pecado, ou seja, é declarado justo por ter conformado com Cristo na sua morte.
Ora, os que Deus declarou justo (justificou porque morreram para o pecado), a estes ele glorificou, ou seja, ressurgiram com Cristo. A glorificação que o apóstolo Paulo faz alusão neste verso refere-se à ressurreição com Cristo em uma nova criatura, e não a glorificação futura, que é revestir o que é mortal da imortalidade.
A glorificação do verso 30 de Romanos 8 é a mesma que o apóstolo fez referência no verso 17: “O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. E, se nós somos filhos, somos logo herdeiros também, herdeiros de Deus, e coerdeiros de Cristo: se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados” ( Rm 8:16- 17 ; Cl 3:1 ).
Quando os cristãos ressurgiram com Cristo ( Cl 3:1 ), são glorificados de fato "E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um" ( Jo 17:22 ), pois ‘conheceram’ a Deus, ou antes foram ‘conhecidos’ d’Ele, nova condição que encaixa-se no chamado segundo o propósito em Cristo, destinando-os a serem filhos por adoção. ‘Glorificar’ é o mesmo que se tornar ‘um com Cristo e o Pai’, ou seja, é o mesmo que ‘conhecer’.
“E aos que predestinou (4º) a estes também chamou (3º); e aos que chamou (3º) a estes também justificou (2º); e aos que justificou (2º) a estes também glorificou (1º)” ( Rm 8:30 ).
Assim, temos que todos que se conformam com Cristo na sua morte, Deus os fez ressurgir com Cristo (glorificou), mas antes de ressurgirem, foi-lhes necessário morrer com Cristo, momento em que ocorreu a justificação.Ora, os ressurretos e glorificados são uma nova geração em Cristo e, por isso são chamados com uma santa vocação (chamou), para serem conforme a imagem d’Aquele que os criou, são filhos por Adoção.
A geração eleita não possui outro destino que não seja ser filho, pois foi para isso que Deus os chamou: para que Cristo seja preeminente entre os seus muitos irmãos.
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